Educação
Greve Intelectual
O texto abaixo (assinado por Alberto Carlos Almeida e que reproduzo sem autorização), foi publicado no dia 17 de julho na Folha de São Paulo. Até a presente data nada mudou, o que apenas confirma a indiferença da comunidade "intelectual" brasileira e seus súditos, os alunos e a sociedade em geral. Direito a greve não questiono. Mas greve remunerada? Só no Brasil.
Sem corte de ponto, os doutores pedem mais impostos para que ganhem melhor. Deveriam, em vez disso, usar sua qualificação para obter recursos privados.
Nada é mais caro nos dias de hoje para todos nós contribuintes do que nossos professores universitários funcionários públicos.
Oficialmente, eles entraram em greve no dia 17 de maio. Desde então, eles recebem integralmente, e sem atraso, seus salários.
Trata-se de algo absurdo: uma greve na qual os grevistas são pagos para não trabalhar. Seria cômico se não fosse trágico.
Trata-se da mais longa e abrangente greve remunerada do mundo. Eles querem mais recursos para as universidades. Obviamente, querem aumento salarial, querem que o governo gaste mais com eles. A reivindicação deles poderia também ser colocada do ponto de vista da receita: eles querem que o governo aumente os impostos.
Aumentar impostos com a finalidade de investir na educação básica, de melhorar o sistema de saúde, de ampliar a abrangência do Bolsa Família para diminuir a desigualdade de renda é muito mais legítimo e defensável do que aumentar impostos e ampliar os gastos com professores universitários que em sua grande maioria concluíram o doutorado, algo que os qualifica para obter recursos para a universidade de fontes que não o governo.
Eles são o elo forte da sociedade porque são as pessoas mais qualificadas do ponto de vista da educação formal. Fizeram graduação, mestrado e doutorado e ainda assim querem mais recursos públicos.
O elevado nível educacional de nossos professores é um ativo que poderia facilmente ser convertido em mais recursos para as universidades. É isso que fazem vários departamentos de engenharia, por exemplo, na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Além de não fazerem greves, eles se utilizam de sua elevada qualificação técnica e educacional para fecharem contratos com empresas que financiam pesquisas.
Com esses recursos, eles equipam suas universidades, constroem prédios novos, complementam seus salários -enfim, realizam investimentos importantes em seu próprio trabalho sem onerar ainda mais o contribuinte. Eles cultivam, de fato, a identidade de professores universitários, pesquisadores e cientistas.
Por outro lado, os professores grevistas cultivam a identidade de funcionários públicos. É muito conveniente fazer greve sem nenhum tipo de custo, sem ter o ponto cortado ou sem sofrer ameaça de demissão.
Aliás, nada mais maléfico para o ensino e a pesquisa no Brasil do que professores universitários que são funcionários públicos. Aqueles professores que se consideram mais professores universitários do que funcionários públicos tendem a não entrar em greve. Por outro lado, aqueles que se consideram mais funcionários públicos do que professores, pesquisadores ou cientistas tendem a não titubear quando se trata de entrar em greve.
A greve remunerada caminha para o fracasso, pois provavelmente a presidente Dilma e o ministro Mercadante não irão ceder. Não há novidade nisso. Não se trata da primeira greve remunerada de professores funcionários púbicos que fracassará. Infelizmente, não será a última, posto que o governo não decide pelo corte de ponto dos dias não trabalhados.
O fato é que a prioridade do governo é o atendimento das demandas dos pobres que nunca entraram em uma universidade e que, portanto, não fazem ideia do que é um doutorado.
O governo federal não irá ceder para um grupo de privilegiados que, apesar de chorar miséria, pertence à classe A brasileira, compõe o andar de cima de nossa pirâmide social. É preciso direcionar os recursos públicos para quem realmente precisa. Dilma e Mercadante sabem disso.
loading...
-
O Que Há De Errado Com As Instituições Privadas De Ensino Superior?
Educação é responsabilidade do Estado? Sim. Mas este saber comum tem sido gravemente distorcido por representantes do ensino superior da iniciativa privada de nosso país. Isso porque educação não é responsabilidade apenas do Estado, mas de todos...
-
Para Quem Não Entende
A postagem que divulga o artigo de Scientific American Brasil sobre as universidades federais teve considerável impacto neste blog. Em 24 horas se tornou o segundo mais visualizado, em um universo de 133 textos que têm sido publicados aqui desde...
-
Uma Curiosa Solução: O Quarto Contrato
Nas instituições federais de ensino superior de nosso país existem três tipos de contratos para docentes concursados: 20 horas semanais, 40 horas semanais e Dedicação Exclusiva (DE). Os dois primeiros permitem que os professores contratados exerçam...
-
Afinal, Você é Negro Ou Bonito?
Os programas de cotas nos vestibulares brasileiros são um exemplo claro do despreparo de nossa sociedade para lidar com desigualdades sociais. Ao invés de investirmos seriamente em um país com menos injustiça, criamos programas de cotas para negros...
-
Estudar, Estudar E Estudar!
Não conheço outra forma de crescer profissionalmente sem os estudos, não mesmo. Outro dia, em uma das escolas que leciono, elogiei uma aluna e disse a ela: "Poxa! Você tem o perfil de uma professora!". Sabe o que ela me respondeu? Ela disse: "Que...
Educação