Educação
A Noção Sindical de Universidade de Qualidade
Esta semana encontrei em meu escaninho, no Departamento de Matemática da UFPR, a edição especial de abril de 2014 do Informativo da APUFPR-SSIND (Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná - Seção Sindical do ANDES - SN). Não sei por que esses supostos profissionais do ensino superior ainda colocam lixo em meu escaninho. Mas já que o fizeram, exponho aqui a medíocre e perigosa mentalidade deles.
Já escrevi sobre a APUFPR em postagem anterior. Fui temporariamente punido com uma adesão involuntária a esta nefasta associação, que trata de assuntos acadêmicos por meio de votos, como se visão científica e educacional tivessem alguma coisa a ver com a opinião da maioria. Vejamos o que vem agora. Qual será minha próxima punição?
Novamente o assunto da hora na APUFPR é greve nas instituições federais de ensino superior (ifes). E novamente o discurso inicial é a defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade. No entanto, as palavras-chave das doze páginas da edição especial acima citada são "remuneração", "recomposição salarial", "reajuste (salarial)", "vencimento básico", "gratificações", "salário", "definição remuneratória", "composição remuneratória", "perdas inflacionárias", entre outras que remetem simplesmente ao mesmo tema: dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Onde estão termos como "mérito", "meritocracia", "inovação", "internacionalização", "produção"?
Uma das críticas promovidas pela APUFPR é sobre a criação (em 2006) da classe de professor associado nas ifes. Segundo este órgão, "a criação da nova classe alongou em no mínimo oito anos a possibilidade de se aposentar no topo da carreira, já que o cargo de professor titular somente era acessível por novo concurso público."
É inacreditável, mas esses primários sindicalistas consideram que o topo de carreira de um professor universitário é avaliado a partir da classe que aparece em seu contracheque. Além disso, o texto acima sugere que existe uma corrida contra o tempo, entre professores, para conseguir a aposentadoria no menor tempo de serviço e com o maior rendimento possível.
É claro que o governo federal também não contribui de forma alguma nas discussões sobre reivindicações de professores, sejam eles medíocres ou não. A criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (FUNPRESP) é uma clara demonstração de que o sistema de aposentadoria do funcionalismo público atingiu o fundo do poço. Isso porque uma das novidades é que professores de ifes que ingressaram na Carreira de Magistério Federal a partir de fevereiro de 2013 terão suas aposentadorias limitadas pelo teto do Regime Geral da Previdência. E a FUNPRESP é uma suposta solução (extremamente vaga) para quem quiser complementar a aposentadoria.
Em todas essas discussões e deliberações existe perenemente uma cultura miserável sobre o papel da universidade pública no Brasil. Por um lado, a preocupação central do governo federal coincide perfeitamente bem com aquela que é vociferada pelos professores: dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. E, por outro lado, tanto professores quanto governo federal tratam do conceito de carreira docente como algo que pode ser delimitado no papel, definindo as famosas classes no plano de carreiras. É a tentativa de burocratização da produção intelectual. Ainda existe alguém que não entende por que nossas universidades jamais se destacam internacionalmente?
Falta ao governo federal a honestidade de dizer: "Vocês professores universitários não estão cumprindo com o seu papel social. E enquanto não fizerem isso, não haverá discussão alguma." E falta aos professores universitários a visão de responsabilidade social com o país e o mundo.
Espero que o leitor permita uma ilustração do que afirmo.
Vejamos, por exemplo, a produção intelectual de Claudio Antonio Tonegutti e João Francisco Ricardo Kastner Negrão, respectivamente tesoureiro geral e presidente da APUFPR. Cito esses dois nomes por serem eles mesmos citados no Informativo da APUFPR.
De acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 17/04/2013), Tonegutti é autor de um único artigo científico publicado (há mais de vinte anos) em periódico especializado, indexado e com circulação internacional. No entanto, este artigo desperta atenção. É um texto bastante citado na literatura, evidenciando que Tonegutti tinha de fato grande potencial para produção intelectual. Mas não se doutorou e não avançou em seus projetos científicos. Optou pela vida política da UFPR, recheada de ideias egoistas e retrógradas.
Já Negrão, de acordo com a Plataforma Lattes (atualizada em 18/11/2010), não tem artigo algum em periódico especializado. Não há evidências de que ele, alguma vez em sua vida, experimentou trabalho acadêmico sério. Já foi discutido neste blog sobre as tendências de certos profissionais de ciências humanas neste país ignorarem por completo a relevância da disseminação internacional de produção científica. E vale observar que Negrão é um profissional da área de letras. De acordo com a Plataforma Lattes, sua titulação máxima é de mestre.
Se for este o perfil usual dos ativistas de órgãos sindicais que representam professores universitários neste país, fica mais do que claro o motivo para não serem encontradas palavras-chave como "mérito", "inovação" e "internacionalização" em suas propagandas de greve. Eles não têm a mais remota ideia do que significam esses termos.
Se você, leitor, for associado a algum sindicato de professores universitários, fortemente recomendo que comece a se informar sobre a realidade do mundo intelectualmente produtivo. E um bom ponto de partida pode ser encontrado clicando aqui. E se deseja descobrir quem no Brasil realmente faz a diferença, clique aqui.
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