Educação
Que tal um olhar matemático sobre a medicina brasileira?
Em 2001 S. Ramsey publicou um artigo na prestigiadíssima Lancet sobre o Doutor Harold Shipman.
Aqueles que se referem a Jack Kevorkian como o Doutor Morte deveriam conhecer melhor o trabalho de Shipman. Este médico britânico, ao longo de sua carreira de 24 anos como clínico geral, assassinou algo em torno de duzentos e trezentos idosos que estavam sob seus cuidados. A estratégia era muito simples. Naturalmente se espera que uma pessoa idosa e com problemas de saúde venha a falecer em algum momento não muito distante. Shipman envenenava seus pacientes de forma a não levantar suspeitas. E como na Inglaterra simplesmente não existia qualquer sistema de controle de número de óbitos entre pacientes de clínicos gerais, as condições se demonstravam extremamente favoráveis para satisfazer às necessidades homicidas de Shipman. Foi simplesmente o excesso de confiança que o deixou descuidado e acabou trazendo a verdade à tona, resultando em sua prisão em 1998.
O mais incrível é que as autoridades inglesas reconheciam que o controle de número de óbitos entre pacientes de clínicos gerais é extremamente difícil de ser realizado. Tanto é verdade que ninguém foi capaz de determinar o número certo de vítimas de Shipman. Nem ele próprio.
Como a saúde pública inglesa é um modelo internacional de eficiência e profissionalismo, pergunto o seguinte: e no Brasil?
No Sistema Único de Saúde (SUS) ocorrem sistematicamente casos de pacientes que são atendidos por médicos diferentes em cada consulta. Isso significa que nosso sistema de saúde, que atende à grande maioria da população, não tem controle algum sobre certos dados, como o número de óbitos por médico. Muitos profissionais podem estar prejudicando pacientes por imperícia, descuido, estresse causado por excesso de carga de trabalho ou simples irresponsabilidade, sem que tal informação consiga ser detectada. Levando em conta o ridículo pagamento que cada médico recebe por atendimento no SUS, não me parece exagero supor o pior, incluindo atividades criminosas. Isso significa que a saúde brasileira pode estar matando homens, mulheres e crianças (e não apenas idosos) sem ter a mínima ideia a respeito de quaisquer estatísticas. Somos matematicamente cegos sobre nossa saúde pública.
Existem modelos matemáticos que podem ser empregados para lidar com grandes quantidades de informações, com o objetivo de transformar dados em conhecimento. Isso é extremamente importante para fins de identificação de padrões e de casos atípicos em grandes amostras, como um eventual excesso de número de óbitos por médico. Este é o papel de áreas do conhecimento como a análise multivariada. Mas para um modelo desses ser implementável, faz-se necessário o levantamento de informações, algo que ainda não tem sido feito.
O Brasil é referência mundial em algumas iniciativas louváveis, como o sistema eletrônico de votação e a rápida e eficiente apuração de resultados eleitorais, usados com sucesso em todo o território nacional. Os Estados Unidos, por exemplo, tem um sistema de apuração de votos simplesmente vergonhoso. Por que uma iniciativa competente como a nossa coleta e apuração de votos não pode se estender para algo de importância estratégica como a saúde do povo brasileiro? O que é mais importante, votos ou saúde?
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