Educação
PT e Satanás
Não faz parte do perfil deste blog a promoção de discussões de caráter político partidário. No entanto, preciso abrir uma exceção. A partir do momento em que aqui se discute sobre matemática e sociedade, não vejo mais como ignorar a atual situação política de nosso país, uma vez que ela afeta de maneira marcante diferentes segmentos sociais, incluindo ciência e educação.
Sim. A bola da vez, o Partido dos Trabalhadores (PT), é o mal encarnado e institucionalizado. Não é por acaso que o símbolo deste partido seja uma estrela vermelha de cinco pontas. O PT é definido por membros e simpatizantes de índole radical, reacionária, intolerante, irracional, doutrinária e socialmente ácida. E Lula é o Anti-Cristo. Não são os casos escandalosos de corrupção, amplamente noticiados, que definem o PT. Os lucros da corrupção são apenas bônus para uns poucos membros do partido. É tão somente o extremo radicalismo em conjunção com a insaciável sede por poder que forja e alimenta o PT, o partido vermelho como o Diabo.
Se o leitor não percebeu o tom irônico do parágrafo acima, então não conseguirá entender também o texto que segue abaixo. Nada posso fazer para ajudar. Então nem pense em responder a esta postagem.
Por que o PT é o mal? Por vários motivos mas, principalmente, porque o PT é um partido político brasileiro de poderosa e persistente influência. É um partido político que conquistou considerável influência nos últimos doze anos e que tem despertado atenção redobrada, por conta de denúncias de corrupção e de transações suspeitas com nações estrangeiras. Mas ainda é apenas um partido político. Quem lembra da Aliança Renovadora Nacional? Este foi outro partido que demonstrou a mesma sede pelo poder. Era o partido de sustentação política para o regime militar durante a ditadura. Um dos discursos recorrentes de militares ligados à ARENA era a paz social, a qual foi imposta, na prática, com tortura.
PSDB, PDT, PSOL, PV e todos os demais, no amalucado universo de 32 partidos registrados no TSE, têm exatamente o mesmo sonho molhado: conquistar e demonstrar poder. Mas este poder não é necessariamente em favor de ideais coletivos. Prova disso é o troca-troca de siglas entre deputados e senadores. Comumente a migração de "representantes do povo" converge para partidos com maior representatividade em casas como assembleias, câmaras e senado. Ou seja, o universo que define a política brasileira não é propriamente um universo de ideias e ações construtivas para a sociedade, mas de influências e demonstrações de poder.
Comparemos a política partidária brasileira com o decadente futebol de nosso país. O trecho que se segue foi extraído de um fórum do UOL:
"Os cartolas demagogos de plantão vivem dizendo que o maior patrimônio de um clube é a sua torcida. A frase é verdadeira. O problema é que eles falam isso da boca pra fora. O torcedor nunca é levado em consideração na hora de decidir sobre o time."
Já o trecho que se segue é de uma postagem no Facebook:
"O maior patrimônio de um país é o seu povo. Mas o que ocorre com as três esferas da administração pública que não investe no seu povo! [...] um povo sem educação, abandonado a sua própria sorte."
Agora vejamos esta outra afirmação de uma atleticana:
"O atleticano não torce por um time, torce por uma nação. E tal qual em uma guerra, um cidadão não renega um país. Mesmo que a derrota seja grande, o atleticano apoia seu time na derrota, pois os obstáculos engrandecem seu sentimento de nacionalismo."
E agora comparemos com este discurso de um deputado do PT:
"Não somos apenas um partido político. E vocês sabem disso. Quem é petista, como eu, sabe que não carregamos uma bandeira por acaso, e que não colocamos uma estrela no peito apenas para estampar o número de um candidato. Não amamos o PT, mas a ideia. E não adianta: ninguém consegue destruir uma ideia tão viva, tão humana, tão real."
Qualquer devaneio de imortalidade nada tem a ver com racionalidade ou bom senso. E, sem racionalidade, decisões acertadas dependem de mero acaso.
Tenho percebido um perturbador fenômeno que fica muito claro em redes sociais como o Facebook, e que já começa a atingir até mesmo este blog: verdadeiras batalhas entre simpatizantes de esquerda e de direita, parecidíssimas com confrontos entre torcedores de futebol. E, enquanto torcedores ofendem e agridem uns aos outros, empresários faturam milhões com futebol. Enquanto simpatizantes do PSDB e do PT ofendem e agridem uns aos outros, inúmeros políticos e governantes praticamente abandonaram o seu país, concentrando esforços apenas em benefício próprio.
É evidente que existem diferenças ideológicas entre partidos políticos, assim como existem diferenças fundamentais entre times de futebol. Mas futebol é apenas "válvula de escape" para parcela significativa da população. No entanto, política partidária é algo que define rumos de nossa nação. Por conta disso, é melhor pararmos de tratar partidos políticos como encarnações de ideologias que devem sobreviver, custe o que custar. Um partido político não é um time de futebol! (Repita isso cinco vezes diante do espelho.)
Definitivamente o PT não é a raiz dos problemas que o Brasil enfrenta, apesar de infindáveis discursos que ouço e leio sobre isso. Esta raiz está em cada um de nós, brasileiros. Qualquer pessoa que não consiga ver os benefícios que o PT trouxe para o nosso país é tão cega quanto aquela que garante que este partido é a única esperança para um Brasil socialmente justo.
Nenhum partido político merece tanta devoção. Nenhuma pessoa merece tanta paixão ou tanto ódio vindo das massas, seja Lula, Dilma ou Fernando Henrique Cardoso.
Dane-se o PT! Dane-se o PSDB! Danem-se os radicais de esquerda e os radicais de direita! Danem-se todos os miseráveis de espírito que dependem da vitória alheia para se sentirem bem consigo mesmos! Quando Lula assumiu a Presidência da República pela primeira vez, aquilo foi um belíssimo exemplo democrático do Brasil para o mundo. Mas este exemplo jamais deveria ser motivo para enaltecimento de Lula. Admiração, talvez. Mas nada além disso. Lula erra sim. E, se erra, deve assumir seus erros e abrir espaço para novas ideias, novas políticas. E o mesmo vale para qualquer governante.
Quer defender algo até a morte? Defenda os seus filhos! Seus filhos precisam de um futuro em um país equilibrado, sóbrio, saudável, que abrace o futuro de seus netos e bisnetos.
Ninguém mais dá a mínima para a ARENA! Isso porque a ARENA jamais foi importante a longo prazo. E, da mesma maneira, um dia o PT será apenas uma lembrança, assim como todos os demais e mesquinhos partidos políticos deste país. Mas nossos filhos viverão nessas terras, assim como os filhos deles. E o exemplo que definirmos hoje será fundamental neste futuro que nós mesmos jamais veremos.
Se a revista Veja é politicamente tendenciosa, infeliz esquerdista, que tal você ler um bom livro e conversar com o seu filho sobre aquela obra? Se a Rede Globo é manipuladora das massas, que tal levar o seu filho a um bom museu? Se a Presidente da República acha que sua condição de mulher é tão importante a ponto de se auto-intitular de Presidenta, infeliz direitista, que tal colocar o seu filho em contato com diferentes discussões sobre gênero? Qual lealdade é mais importante: a lealdade partidária ou a lealdade ao seu filho?
Brasil é um país ignorante, de gente ignorante. Chega disso! Revoluções existem sim e são fundamentais. Mas as revoluções mais duradouras são aquelas feitas silenciosamente, sem gritos, sem ofensas intencionais, sejam físicas, morais ou psicológicas.
Teorias científicas revolucionaram o mundo: teoria da evolução, teorias da relatividade, física quântica, teoria dos conjuntos. Darwin, Einstein, Planck e Cantor não precisaram gritar ou ofender pessoas para impor suas ideias científicas e filosóficas. Ninguém precisou criar uma bandeira para a teoria da relatividade ou para a física quântica. Ideias sensatas vencem naturalmente, com o exemplo do benefício social, da construção.
Se tem bandeira, é melhor que seja futebol. Se existe a honesta pretensão de um Brasil melhor, é de ideias e ações construtivas que precisamos. Não importa se essas ideias surgem de um petista ou de um cientista. Se a ideia é boa, ela naturalmente vencerá. Mas enquanto houver gente gritando em favor de bandeiras, será difícil sequer ouvir as ideias. E este Brasil está se transformando em uma terra ensurdecedora.
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