Educação
Entre Professores e Alunos, Quem Vale Mais?
Apesar do foco desta postagem ser a Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredito que a maioria das considerações aqui colocadas são cabíveis a praticamente todas as instituições públicas de ensino superior de nosso país.
Um dos objetivos deste blog é criar condições para a promoção de debates e ações em favor da educação brasileira. Neste sentido, tenho aprendido com muita gente que coloca suas opiniões aqui, no facebook ou mesmo em conversas pessoais. E até muito recentemente eu acreditava que um dos grandes males da educação superior pública é a indiferença, tanto de alunos quanto de professores.
No entanto, em função de certas reações à postagem que antecede esta, percebi que preciso melhorar consideravelmente minha percepção em relação à suposta indiferença da comunidade acadêmica com o ensino público superior.
De fato, as universidades públicas estão infestadas de professores e alunos que são como zumbis, alimentando-se muito mal de miolos alheios e vivendo vidas completamente desprovidas de responsabilidade social. Mas há também uma massa considerável de indivíduos nestas instituições que conseguem perceber claramente as estupendas mazelas das instituições federais e estaduais de ensino superior e, ainda assim, jamais tomam qualquer atitude significativa para mudar o quadro negro da educação pública. Estes indivíduos não são zumbis, apesar de agirem como tais. Eles são covardes. Explico nos parágrafos que se seguem.
Na postagem Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba (título que faz referência ao hilário humor negro do cineasta Stanley Kubrick) apresento apenas os primeiros resultados de uma estratégia que adotei para manipular a cômica ingenuidade de professores e alunos da UFPR. A rigor a UFPR nada pode fazer para mudar meus critérios de avaliação. Mesmo assim consegui convencer tanto alunos quanto professores de que eles deveriam abrir um processo para investigar minhas atividades docentes. Parte do resultado está retratada na postagem mencionada.
Logo em seguida recebi uma mensagem pública de um aluno do Curso de Física da UFPR, a qual reproduzo aqui (as observações entre colchetes são minhas):
"O CAHK [Centro Acadêmico Hugo Kremer] foi quem levou a queixa ao Colegiado de Curso. Eu era o responsável por fazer a intermediação entre os corpos discente e docente, e, caso o senhor não lembre, eu que fui falar com o senhor. Porém, eu renunciei devido a problemas diversos, e os membros restantes disseram que não vão mais participar desta questão. Uma das diretoras restantes me disse, quando eu ainda integrava a gestão, para 'cuidar do meu próprio cálculo'. Relevante ou não, ela fazia Cálculo I com o senhor.
Quanto ao Prof. Celso, ele é excelente coordenador. É sempre disposto a ouvir as queixas, sugestões e elogios dos alunos, ao invés de simplesmente dizer 'os professores entendem mais, os alunos devem ficar quiestos' como defendido por alguns membros do corpo docente (da universidade inteira, vale dizer) e, curiosamente, por alguns alunos. O Prof. Celso saiu candidato a coordenador de curso por pedido meu e da [nome omitido]. Na próxima vez, busque informar-se melhor sobre a obra de alguém ao invés de criticar por causa de um documento que, eu concordo, ficou mal-escrito, porém inteligível."
O que se deriva desta mensagem é algo sintomático de toda a população acadêmica da UFPR: o domínio das emoções.
Na visão deste aluno o Coordenador do Curso de Física é excelente. Por quê? Porque ele ouve os alunos e tenta tomar providências. Ou seja, o único fator de avaliação é de ordem puramente emocional. Um coordenador de curso é excelente se ele ouvir os alunos e tomar providências. Não importa se tais providências são arquitetadas e executadas de forma primária. O que importa são as suas intenções. Ele quer o bem, o bem dos alunos. Não tem problema algum se for incompetente.
Agora analisemos as entrelinhas (não apenas da mensagem pública que recebi, mas de todas as atividades de ensino na UFPR). Onde há o domínio das emoções, existe o palco perfeito para o domínio do medo.
Alunos têm medo de professores. Por quê? Porque professores têm o poder de reprovar alunos, seja por mérito ou não. Alunos não confiam em bancas de revisão de provas. Isso porque os membros da banca são colegas ou até amigos do professor cuja avaliação está sendo questionada. Esses mesmos alunos são dominados por este medo e muito raramente abrem qualquer processo de revisão de prova. Têm o direito à revisão, pelo menos no papel. Mas a prática não confere tal direito. Isso porque a prática é o domínio do medo.
Alunos têm medo de alunos. Por quê? Porque sempre aparece aquele colega intrometido que questiona seus professores. E este aluno é capaz de irritar suficientemente o professor a ponto de fazê-lo se vingar da turma inteira, realizando provas muito difíceis de serem realizadas com sucesso.
Professores têm medo de alunos. Por quê? Porque são justificadamente inseguros quanto à sua competência profissional. Já vi as reações de professores cujas aulas e avaliações foram questionadas por alunos. A maioria fica furiosa. Fúria é uma reação típica do animal que se sente acuado, ameaçado. Isso é medo.
Professores têm medo de professores. Por quê? Porque professores dependem de professores para terem seus projetos aprovados. A burocracia e o discurso emocional sempre dispõem de instrumentos para impedir o crescimento profissional de docentes e pesquisadores. Como conseguir aquele estágio de pós-doutorado se os colegas não gostam do solicitante? Um exemplo disso está retratado na postagem O que a UFPR Espera de Você?. Posso apresentar muitos outros exemplos igualmente patéticos.
Um indivíduo é covarde quando dominado pelo medo. Medo é uma reação emocional absolutamente natural. É saudável ter medo! Mas ser dominado pela sensação de medo é uma postura absolutamente incompatível com atividades acadêmicas sérias. Quando um indivíduo é dominado pelo medo, ele demonstra não ser saudável e nem inteligente (seja do ponto de vista racional ou emocional). É um covarde.
Portanto, entre os alunos típicos da UFPR e seus típicos professores, quem vale mais? Ninguém. Absolutamente ninguém.
Covardes são pessoas que precisam ser diagnosticadas e tratadas por especialistas. Caso contrário, continuarão a perpetuar e alimentar o medo e a covardia em seus meios sociais.
Pelo menos o Coordenador do Curso de Física não se deixou intimidar. E isso eu respeito e admiro. Apesar de certamente não ser o bastante, já é um começo. Resta saber como esta situação evoluirá. Se nada mais acontecer, cogito em estender meu critério de aprovação para todos os alunos matriculados. Se não for apresentada uma solução sensata para o dilema REUNI-UFPR versus realidade admito a possibilidade de aprovar todos os alunos matriculados em qualquer disciplina de graduação que eu lecionar, independentemente de eles assinarem avaliações ou sequer aparecerem em sala de aula.
Confio mais no corpo técnico-administrativo da UFPR. Eles fazem o seu trabalho! Alunos e professores que são dominados pelo medo de questionar são pessoas que não têm valor social construtivo. Não se promove ciência e cultura sem questionamentos sérios e pertinentes.
Ciência não é uma atividade democrática. Ao inferno com a opinião da maioria! Foram maiorias que apoiaram Hitler e elegeram Collor. São maiorias que defendem a estabilidade de professores de instituições federais de ensino superior. Mas estas mesmas maiorias dependem do trabalho sério de absolutas minorias. A Teoria da Evolução das Espécies de Darwin triunfou por mérito de ideias. Jamais houve qualquer eleição para a humanidade decidir se o homem evoluiu a partir de outras espécies ou se descende de Adão e Eva.
A maioria toma decisões sustentadas predominantemente pela emoção e não pela razão. Uma universidade deve saber lidar com esta realidade. Por um lado, uma universidade não se sustenta pela opinião de maiorias. Por outro lado, ela deve servir a essas mesmas maiorias. Uma universidade é uma prestadora de serviços para a humanidade. Esta é uma grande responsabilidade. Tanto Governo Federal quanto universidades federais que aderiram ao REUNI romperam com esta responsabilidade.
Enquanto os covardes queimam eu seus próprios infernos pessoais, faço uma chamada aos demais: Mudem o país para melhor!
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