A percepção dos alunos sobre os melhores professores
Educação

A percepção dos alunos sobre os melhores professores



Dois anos atrás publiquei neste blog uma brincadeira na qual uma pessoa deveria aplicar matemática para decidir se casaria com a paixão de sua vida. 

Apesar do tom irônico da postagem, as ferramentas indicadas na postagem acima citada são instrumentos básicos e bem conhecidos sobre teoria das decisões. 

Decisões fazem parte do cotidiano de todas as pessoas, desde processos de escolha sobre o que comer no café da manhã até momentos em que um professor deve definir se aprova um aluno em uma disciplina ou não. 

Quando fui chefe do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Paraná, tentei convencer professores de que eles deveriam ser avaliados pelos seus alunos. No entanto, docentes parecem se sentir ameaçados diante da perspectiva de avaliações tendenciosas. Esta não deixa de ser uma visão meramente espelhada dos próprios profissionais do ensino, uma vez que, como já demonstrei em outra oportunidade, pessoas são incapazes de serem imparciais.

Pois bem. O que isso tudo tem a ver com o título da postagem?

No mês passado Michela Braga, do Departamento de Economia da Università degli Studi di Milano (Itália) e colaboradores publicaram artigo em Economics of Education Review no qual demonstram que os melhores professores são aqueles que recebem as piores avaliações de seus alunos. 

O critério para definir os melhores professores é justamente o desempenho de seus alunos em disciplinas cursadas posteriormente. Neste contexto, os melhores docentes são aqueles que exigem mais de seus pupilos. 

Os dados foram obtidos a partir de documentos administrativos da Università Bocconi, em Milão, Itália. Para ter acesso a uma versão preliminar do artigo sem ter que pagar os US$ 19,95 exigidos pela editora Elsevier, clique aqui.

Um dos aspectos mais interessantes do artigo de Braga e colaboradores é a concepção de um modelo que ajuda a compreender os resultados obtidos e que, além disso, permite apresentar evidências de que alunos avaliam professores a partir das utilidades percebidas.

Esta é uma informação extremamente importante, uma vez que percepção de utilidades é ingrediente fundamental em tomadas de decisão. Na postagem mencionada sobre teoria das decisões, pequei por não reforçar o eventual aspecto subjetivo na determinação de utilidades. E no artigo de Braga e colaboradores fica assumido que, intuitivamente, alunos empregam rudimentos muito elementares da teoria das decisões quando avaliam seus professores.

A avaliação de alunos sobre o desempenho de seus professores tem sido cada vez mais comum em universidades do mundo inteiro, apesar de serem quase inaplicáveis ou inócuas em universidades públicas de nosso país. Elas ajudam a determinar a clareza de um professor em sala de aula, a logística da disciplina ministrada e até mesmo aspectos mais básicos como assiduidade e pontualidade. Normalmente tais avaliações são usadas como instrumentos de seleção e motivação de profissionais do ensino. 

No entanto, o recente e importantíssimo trabalho de Braga e colaboradores mostra de maneira clara e objetiva que mesmo instrumentos de avaliação devem ser avaliados. Neste sentido, tanto instrumentos que avaliam desempenho de alunos quanto aqueles que avaliam desempenho de professores devem ser contextualizados com a política educacional de cada instituição. Sem uma definição clara dos propósitos de uma instituição de ensino, não há como se beneficiar com instrumentos de avaliação. Isso porque cada pessoa neste mundo, seja aluno ou professor, tem suas próprias peculiaridades, interesses pessoais e tendências.

E apesar da multiplicidade de interesses frequentemente divergentes entre docentes e discentes em uma instituição de ensino, ainda há elementos universais detectáveis, como a correlação negativa entre bons professores e a percepção de alunos sobre seus mestres.

Aproveito para agradecer ao professor Carlos de Brito Pereira pela indicação do artigo de Braga.



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