Educação
Projeto de Lei que obriga divulgação do Ideb em escolas públicas tem opiniões divergentes em SC
As fachadas das escolas públicas brasileiras poderão vir acompanhadas de um número: o do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) — uma avaliação que monitora a qualidade de ensino do país. Um projeto de lei, em tramitação no Congresso Nacional, quer obrigar os colégios públicos a colocarem uma placa, de no mínimo um metro quadrado, na porta do estabelecimento, revelando a média que obteve na avaliação nacional.
Veja o Projeto de Lei
A ideia foi apresentada pelo deputado federal, Edmar Arruda (PSC-PR). A justificativa foi de que "pais, professores, alunos e toda a comunidade escolar sejam informados sobre a qualidade da escola em que estão envolvidos". Ele ainda citou no texto do projeto que a proposta foi inspirada em uma provocação feita pelo especialista em educação Gustavo Ioschpe.
Em sua coluna na revista Veja de 8 de junho, o pesquisador sugeriu que as escolas públicas deveriam ser forçadas a expor o Ideb ao lado do índice médio do município e do Estado. Para Ioschpe, "a maioria dos pais e professores não sabe se a escola do filho é boa ou ruim" e completa dizendo que se esperar que haja consultas no site do Ministério da Educação (MEC), o Brasil será o país do futuro por mais muitas gerações. De mesma opinião, Arruda levou a ideia adiante.
— Entendo que, à medida que isso se torne transparente, não só haverá uma melhora na autoestima do aluno e dos profissionais como também um maior envolvimento dos pais. É um projeto simples, mas que vai gerar orgulho pra eles ou uma mobilização maior para que se busque melhoras na instituição — diz.
No Rio de Janeiro (RJ), o prefeito Eduardo Paes nem aguardou a aprovação da lei. Assinou um decreto obrigando os colégios municipais a exibiram o número. Quando os alunos voltaram às aulas, na semana passada, já encontraram a nota exposta.
Opiniões divergem no Estado
O presidente do Conselho Estadual de Educação, Maurício Pereira, é favorável à proposta. Ele argumenta que, se a avaliação é pública, os resultados devem ser divulgados:
— Só lamento que por algo tão simples precisamos de lei. Não sei se essa seria a maneira correta. Mas no Brasil, infelizmente, as coisas só funcionam assim.
Para ele, o Ideb é a nota da escola, representando a qualidade que ela tem ou não.
— Quem não tem um resultado bom, que procure melhorar. Divulgar esse índice tem repercussão, incluindo a cobrança dos pais pela melhoria da escola — ressalta.
Número não ajuda
Já para o especialista em educação Antonio Pazeto, ex-diretor de educação básica do Estado, a exposição pública do Ideb em frente a qualquer escola não contribui para melhorar a educação.
— O que é positivo e eu concordo é que se dê amplo conhecimento dos resultados do Ideb aos alunos, pais e professores por meio de discussões, buscando as causas positivas e negativas dos resultados, definindo ações, metas e compromissos conjuntos a serem alcançados. Ele ainda observa que o índice não é garantia de que uma escola é boa e com qualidade:
— Ele serve como um indicador importante, não sendo o único. Há diversos outros aspectos que somente professores, gestores e os próprios alunos têm condições de identificar como positivos ou negativos. Para isso, eles devem focar o trabalho pedagógico, a aprendizagem, as relações de convivência, os valores humanos e ambientais.
Orgulho do resultado
Quando saiu o resultado do Ideb, em 2010, a Escola Aldo Câmara da Silva, em São José, na Grande Florianópolis, colocou uma faixa comemorando o resultado alcançado: 6,2 nos anos iniciais do ensino fundamental. O índice mereceu ser celebrado. Além de a nota ser a mais alta entre escolas públicas do município, apenas 6,7% (3.325) dos colégios públicos do país tiveram índice maior ou igual a seis nesta etapa do aprendizado.
A diretora da escola, Roseli Kulkamp Sant'ana, acredita que o bom desempenho em 2009 — um salto, se comparado com o índice de 2007, de 4,6 — foi devido a um momento que a escola vivia. Havia professores muito engajados com a educação. Eles trocavam ideias e projetos, que funcionavam nas turmas.
— A gente tentou divulgar o máximo nosso desempenho, porque foi um orgulho para todos — relata.
A diretora concorda em expor a nota na frente do colégio, que tem cerca de 420 alunos. Para ela, isso incentivaria a instituição a melhorar. Roseli apenas alerta para o fato de que são poucos os responsáveis que sabem o que a nota representa.
— Quando colocamos a faixa, uma minoria de pais nos procurou. Por isso é interessante que se publique e que se fale do índice. Acredito que, quando o número ficar na frente do colégio, vai despertar a curiosidade dos familiares.
A diretora ainda acha necessário contextualizar o índice, explicando o que ele avalia.
— Ele não é apenas uma nota, é resultado de um trabalho pedagógico e de convivência, que envolve professores, alunos e família — observa.
No final deste ano, alunos do 5º ano e 8ª série irão encarar a Prova Brasil, que conta no Ideb. Roseli espera a escola repita o bom desempenho nas séries iniciais.
Mais do que avaliar a qualidade de escola, a prova também vai dar uma resposta para o novo modelo de ensino fundamental, que era de oito e passou para nove anos. A avaliação será respondida por alunos do 5º ano — os primeiros que entraram no novo modelo, em 2007, quando começou a ser implantado na rede estadual.
Ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) |
Média do Brasil |
Séries iniciais (1º a 5º ano): 4,6
Séries finais (6º a 9º ano): 4
Ensino Médio: 3,6 |
Média de Santa Catarina |
Séries iniciais (1º a 5º ano): 5,2
Séries finais (6º a 9º ano): 4,5
Ensino Médio: 4,1 |
O ranking nos estados |
:: Séries iniciais Minas Gerais: 5,6 Distrito Federal: 5,6 São Paulo: 5,5 Paraná: 5,5 Santa Catarina: 5,2 :: Séries finais São Paulo: 4,5 Santa Catarina: 4,5 Distrito Federal: 4,4 Minas Gerais: 4,3 Paraná: 4,3 :: Ensino Médio Paraná: 4,2 Santa Catarina: 4,1 Minas Gerais: 3,9 São Paulo: 3,9 Rio Grande do Sul: 3,9
[Fonte: DC]
|
loading...
-
Plano Nacional De Educação - Pne
O projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação (PNE) para vigorar de 2011 a 2020 foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional em 15 de dezembro de 2010. O novo PNE apresenta dez diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas das estratégias...
-
Apenas Dois Estados Têm índice Alto De Desenvolvimento Em Educação
Nas últimas duas décadas, o índice de desenvolvimento da educação no Brasil passou de 0,279 para 0,367, um aumento de 128% de 1991 para 2010. No entanto, o indicador de acesso ao conhecimento (que junto com a renda e a expectativa de vida compõem...
-
Mec Divulga Dados Preliminares Do Censo Escolar 2012
O Ministério da Educação (MEC) divulgou nesta quinta os dados preliminares do Censo Escolar 2012, publicados no Diário Oficial da União. De acordo com as informações, nas redes estadual e municipal, a educação infantil (creche e pré-escola)...
-
Para Especialistas, Enem Mostra Que Avanço Na Educação é Lento
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apesar de indicar avanço na educação pública do país, mostra que esse ganho ainda é lento. A avaliação do professor Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Ocimar Munhoz Alavarse....
-
Projeto De R$ 100 Melhora Resultado Escolar, Diz Estudo
Um investimento de R$ 100 por pessoa ajuda professores a ensinar melhor. Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aponta que o Pro-Letramento, programa do Ministério da Educação (MEC), causa impacto no resultado da Prova Brasil em Estados...
Educação