O Verdadeiro Milagre Brasileiro na Scientific American Brasil
Educação

O Verdadeiro Milagre Brasileiro na Scientific American Brasil



Nos últimos dez anos houve uma deterioração muito rápida no nível intelectual de meus alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E, pior do que isso, a cada semestre fica mais difícil encontrar jovens alunos motivados para efetivamente contribuir com o seu contorno social. Universidades no Brasil de hoje são meras pontes para a inserção (ou simples manutenção) de jovens na classe média. É praticamente impenetrável na mente de professores e alunos deste país a concepção básica de que universidades devem ser agentes transformadores da sociedade e não meros instrumentos sociais para benefícios exclusivamente pessoais.

Em um país como o nosso, no qual a credibilidade internacional e até mesmo doméstica tem sido afetada todos os dias por iniciativas e omissões do governo federal e da própria população brasileira, está cada vez mais difícil de sustentar qualquer grito de alerta. Parece que o povo desta nação está surdo, cego, mudo e desprovido de qualquer senso crítico. O Brasil tem caminhado muito rapidamente para se tornar uma nação de zumbis. E este é o principal motivo para a drástica diminuição de postagens no blog Matemática e Sociedade. Neste ano em que alguns recordam dos cinquenta anos de golpe militar eu também estarei completando meio século de existência. E a síntese disso tudo é que estou simplesmente cansado, sonhando com a independência financeira de meu filho para finalmente poder chutar o balde.

No entanto, no final do ano passado, vi algo que me abalou profundamente. Eu estava saindo do Prédio da Administração do Centro Politécnico da UFPR - tentando seguir meu caminho para casa - quando encontrei completamente por acaso um rapaz que distribuía exemplares de algo que parecia uma revista. Ele mais se assemelhava a um fanático religioso tentando pescar novos adeptos para uma igreja ou um militante político disseminando palavras de ordem tão comuns quanto os apelos de crianças que querem ganhar presentes de Natal independentemente de se comportarem bem durante o ano. Mesmo assim interrompi minha caminhada para perguntar o que ele estava distribuindo gratuitamente para os transeuntes. Fiquei atônito ao perceber que se tratava de uma revista de divulgação científica de alto nível: a Polyteck. E o rapaz que a distribuía era o principal responsável por aquela publicação: André Sionek, um jovem estudante do curso de física da UFPR.

Dias depois, André Sionek e Raisa Jakubiak (ex-aluna do curso de física da UFPR) conversaram com os alunos de uma das minhas turmas do segundo semestre letivo de 2013. Nesta conversa tive acesso a informações mais detalhadas sobre a Polyteck, e imediatamente decidi apoiá-los. Pedi a Ulisses Capozzoli (editor de Scientific American Brasil) para publicar um artigo sobre esta excepcional iniciativa de jovens que genuinamente compreendem o verdadeiro papel de uma universidade enquanto agente transformador de sociedades inteiras. Se Capozzoli seguisse os comportamentos usuais neste país, ele teria recusado meu pedido. Afinal, por que não encarar a Polyteck como uma simples concorrente no mercado editorial de divulgação científica? No entanto, Capozzoli imediatamente aceitou minha proposta. E na edição de abril deste ano de Scientific American Brasil foi finalmente publicado o artigo. A revista já está nas bancas, incluindo referências e uma foto não veiculadas aqui.

Definitivamente a Polyteck não representa concorrência alguma contra os poucos periódicos de divulgação científica existentes em nosso país. Muito pelo contrário, a Polyteck simplesmente preenche uma lacuna fundamental na vida acadêmica desta nação. Isso poderá ser confirmado tanto pela leitura do artigo abaixo quanto pelo acesso à revista em si. 

Em resumo, caro leitor, esta postagem é uma rara boa notícia no Brasil de hoje. Por isso peço a você, leitor, que faça agora a sua parte: divulgue a Polyteck!

Pense sobre os benefícios reais que uma iniciativa como a Polyteck pode representar a médio e longo prazo em nosso país. Pense sobre isso e divulgue a revista! Faça com que esta publicação alcance seus amigos e familiares. Converse sobre o tema com todos os potenciais interessados. Mande e-mails e mensagens para veículos de comunicação em massa, incluindo sites, revistas, jornais, rádio e televisão. O que sustenta financeiramente a Polyteck são anúncios veiculados na própria revista. Não permita que esta corajosa iniciativa morra por conta de sua simples omissão, caro leitor! Mas, mais importante do que isso, leia a revista. Leia e reflita sobre o que lê. Reflita e divulgue o que achar relevante. Se tiver críticas e sugestões, faça-as também. Mas não permita que a omissão abra mais espaço para a mediocridade que assola o Brasil. 

O que espero desta postagem é que ela tenha mais visualizações do que aquela que aponta para as mazelas das universidades públicas brasileiras. Espero que otimismo desperte interesse maior do que pessimismo. E o que espero deste país é que ele não permita que a Polyteck seja mais uma tentativa frustrada de fazer do Brasil um país melhor. Afinal, do ponto de vista financeiro, a Polyteck ainda está sob constante ameaça de extinção.

Segue abaixo versão do artigo original adaptada para este blog. Espero que aprecie a leitura e se inspire no exemplo. Jovens têm o poder transformador em mãos. E este poder precisa ser usado logo, antes que o sistema acabe com ele.

Boa leitura!
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Artigo da edição de abril de 2014
de
Scientific American Brasil


Um ano atrás publiquei em Scientific American Brasil (edição de fevereiro de 2013) um artigo sobre a realidade das universidades públicas brasileiras, enfatizando a falta de sintonia do ensino superior público com a atual produção científica e tecnológica promovida nos países desenvolvidos. E, levando em conta a incipiente produção acadêmica da maioria das instituições privadas de ensino superior deste país, fica claro que o papel da universidade deve ser fundamentalmente revisto no Brasil. Recebi, ao todo, cerca de uma centena de mensagens e e-mails com comentários vindos de diversos lugares do país e do exterior. E, a julgar pelos conteúdos dessas mensagens, mais pessoas têm percebido que mudanças radicais precisam ser promovidas. Neste texto, porém, destaco uma magnífica iniciativa que nasceu de um grupo de jovens de Curitiba, Paraná. E escrevo este artigo com o propósito de alertar a todos os interessados que iniciativas como esta devem ser enfaticamente apoiadas por diferentes segmentos sociais, desde cidadãos até empresas e governos. 

Em maio de 2013 André Sionek, jovem estudante do curso de física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), retornou dos Estados Unidos após estudar durante um ano na University of Pennsylvania. Ele conseguiu esta oportunidade graças ao programa do governo federal Ciência Sem Fronteiras. Ao contrário de muitos jovens que usam este programa apenas para fins de turismo internacional pago pelos cofres públicos, Sionek de fato viveu a vida acadêmica em uma instituição de ensino superior que é referência mundial. Desta forma ele percebeu diferenças profundas e preocupantes entre o ensino superior nos Estados Unidos e aquele que é praticado no Brasil.

Faço, a seguir, uma breve lista de algumas das diferenças observadas por Sionek. 

1. As ementas de disciplinas lecionadas na University of Pennsylvania (Upenn) são muito parecidas com ementas de disciplinas equivalentes lecionadas em universidades brasileiras como a UFPR. No entanto, a carga horária média dos alunos de lá é consideravelmente inferior àquela praticada aqui. E, apesar disso, a formação dos alunos norte-americanos é muito superior a de brasileiros. Isso porque, ao contrário da prática comum daqui, alunos de uma instituição como a Upenn estudam diariamente e não apenas em época de avaliação. Além disso, existe real participação dos alunos norte-americanos em sala de aula. Para citar apenas um exemplo, comumente livros apenas mencionados por um professor são lidos por alunos logo em seguida.

2. Nos Estados Unidos alunos procuram as melhores universidades com o propósito de aprender, de se prepararem para a competitiva realidade do mercado de trabalho. No Brasil, jovens procuram universidades com o objetivo de obter diplomas. 

3. As áreas de conhecimento nas universidades brasileiras são profundamente segmentadas. Falta interação entre profissionais e estudantes de diferentes especialidades. Isso porque alunos brasileiros ingressam em cursos, os quais ficam isolados do restante de suas respectivas universidades. Nos Estados Unidos os alunos ingressam em universidades e não em cursos. Lá eles têm a oportunidade de trocar ideias com pessoas de diferentes formações. E é bem sabido que interdisciplinaridade é fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico de ponta.

Retornar ao Brasil foi muito difícil para Sionek, uma vez que o ambiente acadêmico brasileiro é, em geral, desestimulante. Como ele cursou uma disputada disciplina sobre empreendedorismo na Upenn, Sionek usou as ferramentas lá aprendidas e criou a Polyteck, em parceria com um ex-colega de laboratório, Fábio Rahal. Trata-se de uma revista de ciência e tecnologia publicada mensalmente desde setembro de 2013.

A tiragem mensal da Polyteck é de dez mil exemplares, todos distribuídos gratuitamente para estudantes, professores e demais interessados. Os artigos são, em geral, adaptações de textos originalmente publicados em periódicos de prestígio, mas pouco conhecidos por jovens estudantes brasileiros, como Nature, Cell, Science e Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. Além disso, a Polyteck prioriza a publicação de artigos sobre desenvolvimentos científicos e tecnológicos interdisciplinares, com o objetivo de estimular a postura universal que toda universidade deveria ter. Outra característica importante da Polyteck é a publicação de textos escritos em inglês, novamente para estimular a leitura da língua usada na comunidade científica mundial e tão pouco conhecida nas universidades brasileiras, tanto por estudantes quanto professores.

Com o tempo foram criados um blog e uma página facebook da revista. Foi neste momento que entrou o terceiro membro da equipe Polyteck, a física Raisa Requi Jakubiak, hoje Diretora de Redação deste periódico de divulgação.

A diretoria da Polyteck tem realizado alguns levantamentos para apurar o potencial de receptividade para a revista. Questionários têm sido respondidos por alunos de várias instituições de ensino superior federais, estaduais e privadas, de diferentes estados. Em um dos questionários (respondido por 126 estudantes universitários) 67,5% dos respondentes acham que as universidades não colocam o estudante em contato com os problemas enfrentados atualmente na indústria e pesquisa. E 64,3% dos respondentes afirmam que as universidades não colocam seus alunos em contato com a fronteira da tecnologia e da ciência. Além disso, o questionário revelou a falta de conhecimentos dos respondentes sobre empreendedorismo. Esses dados, entre outros obtidos, serviram para nortear o perfil editorial da Polyteck.

Apesar da distribuição da Polyteck ser feita de maneira quase artesanal (conheci André Sionek em um dos campi da UFPR, distribuindo a revista entre transeuntes), a qualidade do periódico é impecável, desde diagramação e impressão até os conteúdos das matérias.

Inicialmente a simples ideia de criar a Polyteck foi recebida com considerável ceticismo. Um professor da UFPR chegou a afirmar: "A sua ideia é muito nobre e acredito que um material desse pode realmente causar algum tipo de transformação nas universidades. Mas não no Brasil. Uma revista nesses moldes não vai pegar por aqui. O universitário não quer ler, alguns não sabem sequer interpretar um texto."

Apesar da resistência de alguns, André Sionek vendeu seu carro e Fábio Rahal investiu suas próprias economias para, juntos, darem início ao ousado projeto. Eles também tiveram a orientação do Professor Emerson Camargo, Diretor da Agência de Inovação da UFPR. A expectativa é, a partir de algum momento, pagar as pesadas despesas de edição, impressão e distribuição com anúncios publicitários. Isso porque a diretoria da Polyteck descobriu que existem empresas interessadas em divulgar seus produtos e serviços em universidades, mas que enfrentam dificuldades para encontrar um veículo adequado de comunicação. A Polyteck parece ser uma solução para este problema. 

Além disso, recentemente um professor afirmou para Sionek que usará a Polyteck para ensinar seus alunos a escrever relatórios. 

Com estes resultados iniciais, é possível perceber um clima de entusiasmo entre os diretores da revista. Nas palavras de Sionek, "Nosso maior objetivo é fornecer ferramentas para transformar o aluno brasileiro, atualmente passivo e sem iniciativa, em um estudante de ponta, que é proativo e que entende as demandas da sociedade e da indústria e sabe resolver problemas complexos. Também queremos servir como um canal de conexão entre as diversas áreas do conhecimento e entre a indústria e a academia. Acreditamos que o estudante brasileiro ainda não descobriu o potencial que tem para reinventar o mundo. Sabemos que a tecnologia e a ciência são as áreas que têm maior potencial para causar transformações positivas na sociedade. Por isso, estamos aqui para incentivar o universitário a ampliar seus conhecimentos através da leitura e também para lembrá-lo de que é possível mudar o mundo."
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Estou planejando organizar uma palestra ministrada pela diretoria da Polyteck no Centro Politécnico da UFPR. Se você tem interesse em conhecer pessoalmente o trabalho da Polyteck, por favor deixe aqui um comentário. Desta forma poderei decidir sobre o espaço físico mais adequado para o evento.



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