Educação
O Sentido da Ética Está no Rosto...
O ROSTO
Por: Jorge Schemes*
O rosto, como manifestação do humano é paradoxal, pois é ao mesmo tempo objetividade e subjetividade, tristeza e alegria, angústia e paz, “totalidade e infinito” (para mencionar uma das expressões de Emmanuel Lévinas). O rosto é manifestação e mistério; é concretude e idealismo, mas é no rosto e por ele que percebemos e somos percebidos enquanto seres humanos; o rosto nos aproxima e nos remete a uma necessidade ética universal. É pelo rosto que o outro nos impõe a necessidade de uma “alterconsciência” que de maneira nenhuma subjuga ou anula a autoconsciência. Essa “alterconsciência” (Consciência do outro) impõe a ética da alteridade como filosofia primeira, o que pressupõe uma relação ou inter-relação norteada pelo princípio do diálogo e da reverência. A ética da alteridade condena a segregação, a exclusão, os pré-conceitos e pré-juízos, e contempla o acolhimento do outro, a solidariedade, a diversidade e a justiça, não apenas como um discurso retórico, mas como atitude moral de comprometimento com o diferente, incluindo nesta classificação a nós mesmos, e conseqüentemente com o totalmente outro.
O rosto é a manifestação universal do humano no ser, do totalmente outro, fragmentado pelo mundo pós-moderno da técnica. O rosto é o clamor que se expressa sem palavras e que exige uma resposta ética, pois é no rosto e por ele que a totalidade do alter (outro) se comunica com o ego (eu), e é no rosto e por ele que o infinito (o transcendente) se torna um mistério e ao mesmo tempo se deixa antever. O rosto do outro assim como o meu rosto para o outro são ao mesmo tempo independentes e interdependentes, no sentido ético e moral isso significa autonomia e heteronomia. A ética da alteridade tem seu pressuposto fundamentado na heteronomia sem a exclusão da autonomia. Assim, o que importa é a relação ética que fundamenta as ações e o comportamento diante do rosto de outrem e dele para o nosso.
O rosto é clamor e exigência ética, ignorá-lo é viver no vazio do egoísmo individualista da autoconsciência. Antes de uma ontologia, faz-se necessário e imperativo uma alterconsciência ética. Ignorar o rosto e sua manifestação caleidoscópica e concreta diante de nós, equivale a ignorar o transcendente. O rosto é o convite ético do infinito na forma finita. Esse convite exige uma resposta do ego (eu), e essa resposta só pode ser possível por meio da ética da alteridade como filosofia primeira. O rosto nos impõe responsabilidade moral, o rosto nos conclama à justiça social, o rosto do outro estabelece os limites éticos e morais de minhas ações. Olhar no rosto do outro estabelece o primeiro passo para o compromisso e para o comprometimento ético, pois não podemos viver apenas para o ego solitário (egocentrismo) sem considerar que o rosto do outro nos convoca à justiça social e à solidariedade. O outro e nós mesmos nos revelamos no rosto na categoria de humanos, na condição de igualdade, mas ao mesmo tempo nos ocultamos nele, pois como já refletimos o rosto é totalidade humana (finitude) e totalidade divina (infinito e transcendência). O rosto é a expressão do humano que se impõe ao anti-humanismo pós-moderno, o qual vem até nós embrulhado na forma do consumismo. O rosto do outro, do excluído, é grito e súplica, e é ao mesmo tempo manifestação ética e exigência ética. O rosto do outro nos convoca à alteridade na qualidade de filosofia primeira. E como filosofia primeira, a alteridade se manifesta na ética em sua mais pura essência e forma.
*Jorge SchemesBacharel em Teologia Línguas Bíblicas (Grego e Hebraico).
Licenciado em Pedagogia: Administração Escolar e Séries Iniciais.
Licenciado em Ciências da Religião: Habilitação em Ensino Religioso.
Pós-Graduado em Interdisciplinaridade na Educação com Metodologia do Ensino Superior.
Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Técnico Pedagógico na GEECT – Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia.
Professor de Filosofia da Educação na ACE – Joinville, SC.
Escritor e Palestrante
loading...
-
Publicado Na Revista Abceducatio De Janeiro/2007
A PEDAGOGIA DA ALTERIDADE Por: Jorge Schemes Cada vez mais o individualismo selvagem e até mesmo cruel se impõe como filosofia de vida no cotidiano de milhares de crianças e jovens. A indiferença pelas necessidades do outro e a banalização da vida...
-
Publicado Na Revista Mundo Jovem
A PEDAGOGIA DA ALTERIDADE Por: Jorge Schemes Cada vez mais o individualismo selvagem e até mesmo cruel se impõe como filosofia de vida no cotidiano de milhares de crianças e jovens. A indiferença pelas necessidades do outro e a banalização da...
-
EducaÇÃo, Liberdade E Alteridade
Educação, liberdade e Alteridade Por: Jorge Schemes* A educação precisa partir do pressuposto de que o ser humano é livre. Para J. P. Sartre “todos somos condenados à liberdade”, isto é: nossas escolhas é que nos fazem livres, porque liberdade...
-
A Pedagogia Da Alteridade
A PEDAGOGIA DA ALTERIDADE Por: Jorge Schemes Cada vez mais o individualismo selvagem e até mesmo cruel se impõe como filosofia de vida no cotidiano de milhares de crianças e jovens. A indiferença pelas necessidades do outro e a banalização da...
-
A Ética Da Alteridade - O Rosto
FENOMENLOGIA DO OUTRO COMO ROSTO Por: Jorge Schemes Enquanto que para Russerl a correlação sujeito-objeto se dá no nível da consciência, para Levinas essa correlação vai mais além, pois deve vir da exterioridade, o que Levinas denomina de uma...
Educação