Educação
Indissociabilidade Entre Ensino, Pesquisa e Extensão
A última postagem tem sido muito bem sucedida, levando em conta o considerável limitante de que tratamos aqui de educação e ciência. Graças à colaboração de muitos amigos, colegas e simpatizantes, as ideias veiculadas neste blog têm alcançado inúmeros outros nós das várias redes sociais (sejam virtuais ou reais). Que continuemos nos empenhando para despertar o Brasil de sua eterna condição de Berço Esplêndido. A partir de agora, portanto, peço a todos os colaboradores para ficarem de olho nas mídias jornalísticas. Este blog já promove esta inspeção através das notícias permanentemente anunciadas ao final desta página. Ou seja, estamos de olho no Brasil e no mundo. E precisamos ficar atentos. Afinal, se dependermos da maioria dos professores universitários de nossa grande nação, nada mudará. E tudo o que aparecer de relevante aos propósitos de um Brasil com educação de qualidade e ciência internacionalmente competitiva, deverá ser relatado aqui e em todos os veículos que compartilham deste mesmo sonho.
Uma evidência da tese de que a maioria dos professores universitários simplesmente nada faz para mudar o quadro negro de nossa educação é o eterno discurso impensado da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Em qualquer campanha eleitoral de reitores (como está acontecendo agora na UFPR) sempre se fala dessa tal da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Mas será que alguém nesta terra amalucada realmente entende o que é isso?
Anos atrás participei de uma curiosa mesa-redonda na qual estava presente o físico grego (naturalizado brasileiro) Constantino Tsallis. Ele é o criador daquilo que hoje é conhecido no mundo todo como a entropia de Tsallis.
Naquela ocasião Tsallis fez um comentário que jamais esqueci: "Já é difícil encontrar um professor que conheça os conteúdos que leciona. E ainda o pessoal quer que ele tenha didática!"
É óbvio que Tsallis não despreza didática. Não é esta a questão. Mas o fato é que talentos reais são muito difíceis de serem encontrados, seja qual for a área de atuação. Se um profissional é um excelente pesquisador, mas péssimo docente, por que não podemos aproveitá-lo em nossa sociedade? Analogamente, se um professor ministra aulas magistrais, mas simplesmente não tem afinidade com pesquisa de ponta, por que não podemos aproveitá-lo também?
É claro que existe uma estreita e intrincada relação entre ensino, pesquisa e extensão! Mas, a partir daí, assumir como ideologia cega uma suposta indissociabilidade entre essas três atividades é simplesmente um desrespeito absoluto ao profissional enquanto ser humano.
Steven Krantz já chamou atenção para o fato de que não existe uma única metodologia de ensino eficaz em matemática, aplicável a qualquer massa de alunos. Isso decorre simplesmente do fato de que as pessoas são distintas entre si. Existem aqueles que não têm afinidade alguma com ciência, assim como existem aqueles que precisam tanto da atividade científica quanto de água e comida.
O respeito à individualidade de cada ser humano é uma condição fundamental para o desenvolvimento do coletivo.
Testemunhei algumas pessoas criticando a postura de Bolivar Alves, o qual é um excelente pesquisador na área de física mas que simplesmente prefere não lecionar. O grande matemático pernambucano Leopoldo Nachbin era considerado um brilhante cientista e um excepcional professor. Até mesmo a caligrafia dele no quadro-negro era impecavelmente bela. Mas indivíduos como Nachbin são raríssimas exceções. Se um profissional é capaz de realizar uma tarefa melhor do que ninguém, certamente devemos conceder-lhe espaço para que realize esta tarefa. São muito raros aqueles que conseguem realizar pesquisa de ponta. E esses indivíduos certamente fazem muito mais do que profissionais que realizam pesquisa, extensão e ensino, simultaneamente, mas sem se destacar em qualquer uma dessas atividades.
Universidades não deveriam ser locais de defesa de ideologias desprovidas de análise crítica. E a tal da indissociabilidade acima mencionada é tão somente uma ideologia irresponsável. Isso fica evidente quando o lema é meramente repetido e multidões acenam suas cabeças em concordância, como se estivessem em algum tipo de transe hipnótico. Nas grandes universidades norte-americanas e europeias nada se escuta ou lê a respeito de qualquer ideologia semelhante. Ao invés disso, pesquisadores são simplesmente estimulados por órgãos de fomento a realizar outros projetos que transcendam o dia-a-dia da atividade puramente investigativa em ciência. Aqueles que conseguem abraçar mais de uma atividade, são beneficiados com apoio financeiro e estratégico.
Política em ciência e educação é indispensável. Ideologia sustentada em jargões impensados é sinônimo de retrocesso.
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