Educação
HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA PARTE I
Texto 03
História da Antropologia Parte I
A construção do olhar antropológico e seus principais debates:
Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia tenha se definido enquanto disciplina apenas depois da revolução Iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Enquanto o ser humano pensou a si mesmo e sua relação com "o outro", pensou antropologicamente.
Primórdios:
Homero, Hesíodo e os Filósofos Pré-socráticos já se perguntavam a respeito do impacto das relações sociais sobre o comportamento humano. Ora pretendendo este impacto como conseqüência do desejo dos deuses, como enumera a Odisséia de Homero e a Teogonia de Hesíodo, ou se valendo de construções racionais de pensamento, valorizando muito mais a apreensão da realidade no cotidiano da experiência humana, como privilegiaram os Filósofos Pré-socráticos, foi, sem dúvida, na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo. Os gregos deixaram substanciosos registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como chineses e romanos. Nestes textos, nascia, por assim dizer, a Antropologia, e um exemplo disto, no século V a.C., se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuição grega faz parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e Xenofonte (a respeito da Índia).
Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, debruçado sobre a tentativa de investigar as origens da religião, das artes e do discurso. Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos germanas, tomando como base os relatos dos soldados; nesta análise salienta o vigor dos germanos em contraste com os romanos da sua época. Agostinho um dos pilares teológicos do Catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas “pagãs” e moralmente inferiores às sociedades cristianizadas. Em sua obra já discutia de maneira pouco elaborada a possibilidade do “ tabu do incesto” funcionar como norma social de manutenção da coesão da sociedade. É importante salientar, que Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.
Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico participou das discussões da Filosofia, ao longo dos séculos. Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional voltado ao estudo da experiência humana, como é o caso do administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses tinham para administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos: a Antropologia Biológica (ou Física), de modo geral analisada como ciência natural, e a Antropologia Cultural, classificada como Ciência Social.
O século XVIII:
Até o século XVIII, o saber antropológico esteve presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em sua produção acerca dos povos que conheciam, a maneira como estes estabeleciam sua experiência humana, por meio de seus hábitos, normas, características, mitos, rituais, linguagem, etc. Apenas no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Lineu, tendo como objeto a análise das "raças humanas".
Os informantes destes primeiros tempos eram os textos que descreviam as terras (Fauna, Flora, Topografia) e os povos “descobertos” (Hábitos e Crenças). Algumas obras que foram utilizadas, para discutir os indígenas brasileiros, por exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de Caminha (“Carta do Descobrimento do Brasil”, os relatos de Staden, “Duas Viagens ao Brasil”, os registros de Jean de Léry, “Viagem a Terra do Brasil”, e a obra de Jean Baptiste Debret, “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Além destas outras obras falavam das terras récem descobertas, como a carta de Colombo aos Reis Católicos. Toda esta produção escrita levantou uma grande discussão acerca dos indígenas. A contribuição dos missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de Las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada “teoria do bom selvagem”, que pensava os índios detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser aprendido pelos ocidentais. Esta teoria defendia a idéia de que cultura mais próxima do estado "natural" serviria como remédio aos males civilizatórios.
O século XIX:
No Século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes se utiliza do termo homem pré-histórico, para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante antiga. Posteriormente, em 1865 John Lubock reavaliou numerosos dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.
Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859 e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista. Partindo da discussão trazida à tona por estes pesquisadores, nascia a Antropologia Biológica(Física).
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