Condenado pelos incômodos gerados no ambiente escolar, o telefone celular está prestes a se transformar em um aliado no processo de aprendizagem, segundo um estudo de um grupo de pesquisadores internacionais.
O relatório Horizon 2010, que identifica tecnologias que podem ter impacto na educação nos próximos anos, aponta o celular como uma das ferramentas pedagógicas do futuro.
Resultado da troca de informações entre especialistas de mais de 300 universidades ao redor do mundo, o estudo coordenado pelas organizações New Media Consortium e Educause bate de frente com a visão de professores país afora, que culpam o celular pela distração dos estudantes.
Pelo estudo, o celular pode ser útil para pesquisas durante a aula, para gravar trechos de explicações do professor e até para compartilhar com a turma, por meio de redes sociais como o Twitter e blogs, dados de saídas a campo. Única brasileira a participar da edição mais recente do relatório internacional, Cristiana Assumpção defende que educadores brasileiros repensem a postura quanto ao uso da comunicação móvel na escola.
– O celular é uma ferramenta que está na mão de todos, não importa a classe social. Não se pode tapar uma coisa que está vindo como um rolo compressor. Com a proibição, os alunos logo encontram uma forma de contornar isso, fazendo às escondidas. O pensamento deveria ser: já que estão usando, como podemos fazer para usar melhor? – afirma a especialista em tecnologia da educação, coordenadora dessa área no Colégio Bandeirantes, de São Paulo (SP).
Em Santa Catarina, o uso de celular em sala de aula é proibido pela lei 14.363, de janeiro de 2008, em escolas públicas e instituições privadas.
Mas, para o diretor de educação básica e profissional da Secretaria de Estado da Educação, Antônio Elízio Pazeto, todas as tecnologias que agreguem conteúdos são válidas na hora de ensinar.
– Quanto mais tecnologia, melhor. Desde que usada devidamente e em consenso com o professor – afirma.
Segundo Pazeto, é possível admitir que o telefone celular contribua para a aprendizagem quando usado para fazer pesquisas. Mas ele percebe que os alunos têm o hábito de usar o aparelho apenas para fazer ligações e mandar torpedos. [Fonte: Jornal DC]
Diretor executivo do New Media Consortium e um dos coordenadores do estudo, o norte-americano Larry Johnson defende que professores precisam adaptar o uso dos celulares na escola. Ele concedeu entrevista por e-mail.
Diário Catarinense – Como os celulares podem ser úteis nas salas de aula?
Larry Johnson – Os celulares, mesmo os mais simples e baratos, são pequenos dispositivos de captura multimídia essenciais. Fotografam, filmam, enviam mensagens e, obviamente, permitem ligações. São uma maneira fácil de criar um blog que possa receber entradas de telefones (textos, torpedos, vídeos e áudios). Então, um computador localizado em qualquer lugar pode expor aquela informação produzida para o mundo.
DC – Os professores costumam ter problemas com os celulares, pois os alunos perdem a concentração. O que o senhor diz sobre isso?
Johnson – Esse tipo de preocupação é baseada na questão de que os telefones podem ser usados para diversas atividades – e crianças deixadas à vontade se dispersam algumas vezes. O segredo não é banir o celular, mas usá-lo. As escolas devem procurar maneiras de usar os celulares e buscar compreender como transformá-los em ferramentas à aula.
DC – Como os professores podem fazer o uso educacional dos telefones celulares?
Johnson – Os professores precisam reconhecer que os estudantes usam seus telefones como forma de aprendizagem o tempo todo – apenas não para os tipos de aprendizagem que os professores ordenam. [Fonte: DC]