Sem Fronteiras?
Educação

Sem Fronteiras?




Por que publico as ideias aqui presentes na forma de postagens em blog e não em veículos da mídia impressa? São duas as justificativas: 


1) Blogs têm alcance maior e mais democrático, em comparação com a maioria dos veículos impressos. 


2) É praticamente impossível publicar sobre certos temas na mídia impressa.


Quando a revista Sem Fronteiras da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) do Paraná me convidou para escrever um artigo para o segundo volume daquele periódico, redigi um texto de crítica ao sistema de ensino. Isso porque encontro sérias dificuldades para conceber ciência e tecnologia de qualidade sem educação competitiva diante da realidade internacional. Como resposta, uma editora assistente da revista me disse que aquele conteúdo poderia causar problemas de natureza política, os quais deveriam ser evitados. 


Não culpo a editora assistente, pois imagino que o emprego dela depende de boas relações com sua chefia imediata, a qual também precisa garantir sua posição diante de superiores. Mas o fato é que há um medo inerente de conflitos entre diferentes setores da vida pública. Além disso, não há interesse de governos em expor suas graves falhas ao público. Ou seja, existem fronteiras na revista Sem Fronteiras


Fiquei chateado com a decisão do corpo editorial, mas acabei me comportando como um bom e comportado escravo do sistema. Escrevi outro artigo, de crítica aos filósofos da ciência em geral, os quais têm se afastado cada vez mais dos avanços científicos contemporâneos. Tal texto não causou preocupação e foi até citado no editorial não assinado daquela publicação. Ou seja, apontar as mazelas da educação não pode. Mas criticar filósofos, isso sim vale a pena. Afinal, quem se importa com filósofos?


Meu texto original estava em melhor sintonia com o público-alvo da revista do que um artigo sobre o incipiente papel dos filósofos de hoje no desenvolvimento da ciência. Mas isso não parece ser importante para os editores da Sem Fronteiras. Será este episódio um sintoma das políticas da SETI?


Este evento não foi um caso isolado. Pelo contrário, ele ilustra de forma emblemática a absoluta falta de auto-crítica em inúmeros setores da sociedade brasileira, com especial ênfase àqueles ligados à educação. E quando falo de educação, estou me referindo a todos os níveis, da pré-escola à pós-graduação, e aos setores público e privado. 


O curioso é que professores criticam constantemente alunos, através de processos de avaliação que definem o futuro e até a auto-estima desses jovens. Mas quem critica os professores? E ainda que professores fossem institucionalmente criticados por discentes, qual seria o efeito prático disso? Docentes de universidades públicas não podem ser demitidos se suas aulas forem incompetentes. Mas alunos podem ser reprovados se suas provas demonstrarem suposta incompetência intelectual. Isso é justo?


No caso do ensino superior, vestibular também é um concurso público. Por que isso não garante a estabilidade para discentes de instituições públicas? Ou seja, uma vez que professores das instituições federais de ensino superior estão acima da crítica (por serem concursados), alunos aprovados por vestibular deveriam ter o mesmo tratamento. Em um ambiente onde todos os professores são brilhantes, não vejo motivo para não ver os alunos da mesma forma.


Quantos são os casos de docentes que ministram aulas sob o efeito de drogas e álcool? Conheço vários na UFPR e em outras universidades públicas. Quantos são os professores que cumprem as ementas em suas aulas? Garanto que não são todos. Quantos são os supostos mestres que realizam avaliações compatíveis com essas aulas? Testemunhei colegas que sentem um prazer orgástico em redigir questões de prova que não podem ser resolvidas a partir dos conteúdos abordados em aula. Quantos são os professores que não cometem erros graves durante a exposição da matéria? Em matemática, pouquíssimos. Até hoje, por exemplo, vejo o péssimo livro de Boldrini sendo usado em aulas de álgebra linear. Quantos que são assíduos? Bem, curiosamente não conheço um único docente da UFPR que tenha alguma falta registrada pela chefia de seu departamento. Quantos que cometem assédio moral ou sexual sobre os pupilos? Já vi vários processos internos de assédio. Mas nenhum deles resultou em penalidade alguma que pudesse causar preocupação sobre o professor. E que diferença faz colocar essas perguntas, se nenhum desses docentes pode ser demitido por incompetência, sistemáticas faltas, assédio ou mesmo agressão? Sim. Casos de agressão verbal não são raros na UFPR. Em suma, professores das universidades federais são intocáveis. Mas ninguém discute seriamente a respeito do tema. 


Reconheço que há muitos docentes de universidades federais genuinamente dedicados e competentes, ainda que tenham plena consciência da garantia da estabilidade. Mas eles fazem isso por escolha, por amor à profissão. Muitos deles chegam a afirmar que têm o melhor emprego do mundo, mas o pior trabalho. Já os demais se acomodaram com a estabilidade que até hoje é veementemente defendida por execráveis associações de professores e sindicatos.


Essa maldita estabilidade de emprego para todos os professores concursados das instituições federais de ensino superior tem que acabar de uma vez por todas. Isso necessariamente produz ambientes decadentes, doentes, medíocres, amargos e retrógrados. Por que se critica apenas a mamata dos parlamentares de Brasília? E quanto aos funcionários públicos em geral? Especialmente professores universitários deveriam ser exemplos de conduta íntegra. No entanto, a pornográfica estabilidade de emprego entre docentes das instituições federais de ensino superior vai em absoluto desencontro ao progresso. Ou seja, essa estabilidade é anti-patriótica. 


Brasil é brasa. Chega disso! Precisamos brilhar como chama e não como uma eterna promessa de país do futuro.


Por isso faço um apelo aos leitores deste blog. Criem veículos próprios de divulgação e crítica às mazelas de nossa educação e ciência. Precisamos unir esforços para construir um país melhor. Nada mudará se poucos se manifestarem. Se estes veículos forem concebidos por alunos, professores e pais e amigos de estudantes e docentes, poderemos efetivamente ser ouvidos em algum momento. 


Se não querem criar veículos, divulguem este blog! Sugiram temas! Participem com comentários! 


Faço este apelo como efetiva crítica à maioria dos leitores. Afinal, ontem este blog teve 673 visualizações. E ainda assim pouquíssimos votaram na enquete. A enquete no topo da página e sua respectiva postagem fazem parte de um importante projeto. Nada aqui é gratuito.


Em postagem futura apresentarei sugestões de ações efetivas que professores e alunos possam executar, além da veiculação de denúncias e críticas. 



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