O oculto Cretáceo da Bacia Sanfranciscana
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O oculto Cretáceo da Bacia Sanfranciscana


Quantos segredos ainda faltam para serem descobertos? Ou será que TODOS já foram e não nos resta lugares para procurar novas espécies de dinossauros brasileiros? Não se preocupe caro leitor, há muito chão ainda para se procurar dinossauros em nosso país, só basta ter paciência.

Hoje irei comentar um pouco sobre um próspero sítio paleontológico, que até então era inexplorado no que se refere a fósseis do período Cretáceo - sim, o famoso e último período em que os dinossauros caminharam sobre o planeta.

Bacia Sanfranciscana

De grandes proporções, esta bacia sedimentar está localizada entre os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Tocantins. As rochas mais conhecidas da bacia eram aquelas de idade paleozoica e até pouco tempo, não se conhecia a ocorrência de fósseis do período Cretáceo nessa unidade geológica.
Porém, durante os anos de 2005 à 2009, as coisas mudaram. Deu-se o descobrimento de bone-beds de dinossauros durante escavações realizadas na região do município de Coração de Jesus (MG).

Coração de Jesus, MG.
Autor desconhecido.

Os fósseis encontrados pertencem às rochas do Grupo Areado, Formação Abaeté (Cretáceo Inferior). A presença de fósseis de dinossauros nestas rochas foram totalmente novas para a bacia, tendo sido consideradas, na época de seu descobrimento, como um grande 'milagre paleontológico'. - De fato, quem encontrou os fósseis teve muita sorte!

A maior surpresa mesmo foi ver que os fósseis encontrados eram fantásticos! Muito bem preservados. Sua descoberta expandiu os horizontes paleontológicos do Brasil e permitiu um avanço nas pesquisas do Cretáceo do nosso país.

A descoberta de fósseis de dinossauros trouxe um grande incentivo para futuros estudos na bacia. Acredito que você já tenha ouvido falar sobre o Tapuiasaurus macedoi, uma espécie de saurópode titanossaurídeo descoberta no município de Coração de Jesus, em Minas Gerais. Tapuiasaurus habitou a região de Minas há cerca de 120 milhões de anos, durante o início do período Cretáceo. Falaremos mais disso adiante.

Os fósseis de dinossauros da bacia

A concentração de fósseis nas rochas sanfranciscanas foram interpretadas como de origem parautóctone e autóctone (descubra o que é isso aqui), com uma representação de restos de dois grupos de dinossauros: saurópodes, os "pescoçudos", e terópodes, os bípedes carnívoros.

Um estudo detalhado dos fósseis e a maneira como foram encontrados nos ajudou a compreender as características paleoambientais da bacia. No total, os restos esqueletais destes dinossauros se encontravam com uma desarticulação parcial ou total. Foram encontrados também sinais que indicam a ocorrência de necrofagia (atividade de animais carniceiros) nas carcaças de saurópodes. 


"Está bem, mas como essas informações ajudam a entender um ambiente já extinto?".



Informações recorrentes do estudo da Tafonomia e Estratigrafia nos esqueletos e nas rochas, permitiram os paleontólogos extraírem duas principais informações PALEOECOLÓGICAS:


  • Primeiramente vamos falar sobre o contexto ambiental: o estudo das rochas desta localidade demonstra que parte delas (alguns calcários) foram produzidas pela atividade de cianobactérias, o que indicaria a existência de águas quentes e rasas na região. O estudo das rochas também indicou que a bacia também preservou fósseis em regiões com sedimentos típicos de leques aluviais ... o que explicaria (em partes) o motivo de alguns fósseis se encontrarem desarticulados.
  • Segundo, a fauna da bacia: os fósseis encontrados são representados por dinossauro saurópodes e terópodes. Apenas por terem encontrado restos de terópodes naquela região, já podemos crer que estes animais provavelmente possuíam uma algum tipo de relação "predador-presa" com os herbívoros. O que realça tal teoria, é a constatação da existência de marcas de mordidas nos ossos dos dinossauros herbívoros encontrados. Essas podem ter sido feitas ANTES ou DEPOIS da morte do animal... é difícil saber. 


Tapuaiasaurus macedoi, o grandalhão


Descoberto em 2005, o Tapuiasaurus macedoi, passou a ser conhecido como um dos titanossauros com melhor preservação do crânio já encontrado no mundo todo! A preservação do crânio foi um dos grandes presentes do quase sempre cruel processo tafonômico.
Reconstrução paleoartística do T. macedoi.Paleoarte por: Felipe Alves Elias (visite seu portfólio online clicando aqui).

Com cerca de 9 metros de comprimento, o T. macedoi é até o momento, o único dinossauro nomeado e descrito para a bacia. Ele viveu há cerca de 120 milhões de anos, na localidade onde hoje se situam os depósitos sedimentares da bacia Sanfranciscana.

Sabe-se, através do estudo de seu crânio, que seus dentes eram adaptados para coletar vegetação. Seus grossos e enormes membros o auxiliavam a suportar seu pesado corpo e mantê-lo em equilíbrio enquanto pastava.

Há quem diga que o T. macedoi provavelmente deveria vagar em manadas ou grupos extensos em busca dos componentes básicos para sua sobrevivência: água e comida. O comportamento gregário de saurópodes já foi observado no registro icnológico, mas é difícil saber se todos se comportavam assim.

Réplica em tamanho real do crânio encontrado do Tapuiasaurus macedoi.A amostra fora colocada em exposição para o público na
Exposição Itinerante Cabeça Dinossauro na USP de São Carlos em 2013.
Foto por Aryel C. Goes.


Referências bibliográficas

Pires-Domingues, Ricardo Angelim: Paleogeografia do Alto do Paracatu: o registro geológico dos bone-beds de dinossauros da bacia Sanfranciscana. - São Paulo, 2006.

Exposição Itinerante "Cabeça Dinossauro". Museu de Ciências da USP e MZUSP.



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