Dicas para entrevistas em programas de pós-graduação
Educação

Dicas para entrevistas em programas de pós-graduação


Os conteúdos desta postagem se aplicam a praticamente todas as áreas do conhecimento acadêmico.


Existem quatro modalidades de pós-graduação no Brasil: aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado. Não estou focado aqui na pós-graduação profissional, a qual tem caráter muito diferente da acadêmica. 


Cursos de aperfeiçoamento e especialização são, em geral, farsas universitárias que praticamente nada acrescentam em termos acadêmicos aos alunos. São basicamente fontes de dinheiro fácil para professores e instituições de ensino, sejam públicas ou privadas. Ou seja, o velho discurso do ensino público e gratuito, pregado pelas ingênuas associações de professores de instituições de ensino superior público, será uma eterna hipocrisia, enquanto persistirem os cursos de aperfeiçoamento e especialização pagos. E aqueles empregadores que diferenciam salários para docentes que contam com títulos de aperfeiçoamento e especialização em seus résumés, apenas alimentam essa farsa.


Já a modalidade de mestrado tem a principal função de cobrir lacunas de formação durante o período de graduação. Isso vale em qualquer país e não apenas no Brasil. Um estudante de graduação que realize atividades de iniciação científica de alto nível, e que estude de maneira mais aprofundada o que é lecionado durante seu curso, não necessita fazer o mestrado antes do doutorado. Outra atividade importante que pode tornar desnecessária a realização de um mestrado antes do doutorado é a conhecida monografia de conclusão de curso, desde que seja realizada com seriedade e a devida profundidade na abordagem do tema. Isso faz o estudante ganhar precioso tempo, se ele pretende seguir com estudos oficialmente reconhecidos após a conclusão de sua graduação.


Mas independentemente da história do estudante durante seu curso superior, tanto o ingresso na modalidade de mestrado quanto no doutorado exigem várias etapas de avaliação: análise de currículo e histórico escolar, cartas de recomendação, realização de provas e entrevista. 


Normalmente a entrevista é a última etapa no processo de avaliação de candidatos a um programa de pós-graduação. Mas se engana profundamente aquele que julga esta etapa como a mais fácil de todas. Conheci muita gente que foi reprovada apenas na entrevista. Isso porque programas de pós-graduação precisam se proteger contra candidatos com questionável potencial para concluir o curso pretendido. Afinal, o apoio financeiro desses programas depende, entre outros fatores, do desempenho de seus alunos. 


Por isso apresento algumas sugestões básicas sobre como proceder em tais entrevistas.


1) A mais importante recomendação é a seguinte: Peça para um experiente professor universitário (preferencialmente da área de seu interesse) simular uma entrevista com você. Isso é algo que consome, no máximo, meia hora. Este professor detectará rapidamente suas falhas e, desse modo, você estará melhor preparado para a entrevista real.


2) Pesquise tudo o que estiver ao seu alcance sobre o perfil do programa de pós-graduação. Essa investigação deve ser feita antes da entrevista. Se puder, assista a palestras de professores da instituição. Conheça a produção científica dos pesquisadores. Examine a estrutura do programa em termos de exigências para a conclusão do curso. 


3) Se você concluiu sua graduação (ou mestrado) há muitos anos e só agora está tentando ingressar em um mestrado (ou doutorado), certamente os entrevistadores perguntarão o motivo dessa demora para prosseguir em seus estudos. Se seus motivos se referem a problemas pessoais ou profissionais, deixe claro que tais problemas não podem mais interferir em sua vida acadêmica nos próximos anos. E justifique sua resposta. Se não teve motivo algum, jamais diga isso na entrevista. É fundamental que você demonstre maturidade acadêmica. Se for necessário, matricule-se em uma disciplina do programa de pós-graduação como aluno especial e procure ter o melhor desempenho possível em tal disciplina. Isso pode ser feito antes da solicitação de matrícula no programa de pós-graduação. Desse modo você terá um importante trunfo em mãos, principalmente se foi aprovado com nota máxima. 


4) Uma pergunta inevitável em entrevistas é o motivo para você desejar o ingresso no programa. Jamais apresente um único motivo. Ciência é uma atividade social e, por isso, opera em rede. Um único motivo é demonstração de isolamento social e intelectual. Apresente respostas do seguinte tipo: sempre gostei dessa área do conhecimento (justifique o que exatamente lhe atrai na área desejada de estudos); quero colaborar com o programa de pós-graduação, pois admiro o trabalho de Fulano e Beltrano (professores pesquisadores do programa que podem ser potenciais orientadores); quero e preciso crescer na minha carreira; tenho interesse em pesquisa (fale brevemente sobre o que pretende realizar) e o apoio institucional é fundamental para que eu coloque em prática meus projetos. Se insistirem no motivo para você desejar o ingresso especificamente naquele programa, seja honesto: tenho família nesta cidade e, por isso, terei mais tempo de me dedicar aos estudos e ao trabalho do que viajando para outro lugar; é uma das melhores instituições do país (mas só fale isso se for verdade amplamente reconhecida!); me identifico muito com o trabalho de Fulano e Beltrano (pesquisadores vinculados à instituição). 


5) Há entrevistadores que questionam o que você costuma ler. Neste momento espero que você de fato leia bem mais do que apenas livros didáticos usados na graduação. Textos técnicos tipicamente adotados em cursos de pós-graduação, bem como literatura de divulgação científica, são fortemente recomendáveis. Acompanhar revistas como Scientific American, Scientific American Brasil, Nature, Science, Proceedings of the National Academy of Sciences, ou mesmo Ciência Hoje, Pesquisa FAPESP, Bravo e Cult (dependendo da área de interesse) são fundamentais. Publicações mais populares como as revistas Veja e Superinteressante não devem ser mencionadas. Geralmente são inadequadas para esta finalidade.


6) Outra pergunta frequente é se o candidato tem interesse em receber bolsa de estudos. Esta é uma questão cuja melhor resposta é aquela que for transparente e objetiva, de acordo com o perfil pessoal do entrevistado: sem bolsa não poderei realizar o curso; não preciso de bolsa; não preciso de bolsa, mas ela facilitaria bastante a minha vida. Porém, jamais diga que não quer receber bolsa. Isso pode ser interpretado como falta de interesse em vínculo sério com a instituição. Se responder que precisa de bolsa de estudos, deixe claro que você conhece o valor e que o considera tolerável. Se não souber o valor, pergunte aos entrevistadores e avalie imediatamente se é aceitável, deixando clara a sua posição.


Outra questão importante é o visual do entrevistado. Em geral não existe preocupação se o candidato usa maquiagem, tatuagens, jóias, roupas caras, roupas baratas, piercings, peruca ou demais adereços. Mas uma noite bem dormida antes da entrevista e um banho não fazem mal a ninguém. Além disso, devem ser evitados agentes que comprometam o foco da entrevista, como perfumes de odor muito forte ou cheiro evidente de cigarro e/ou bebida alcoólica. Certas drogas legais e ilegais também devem ser controladas. Ressaca resultante de excesso de bebida na noite anterior, certos analgésicos e maconha são agentes que comprometem o desempenho intelectual de qualquer pessoa. 


Essas últimas recomendações parecem triviais. Mas o fato é que existem casos de pessoas extremamente talentosas (academicamente falando) que se descuidam gravemente com aspectos banais da vida.


Com relação ao estado emocional, excesso de calma ou acentuada preocupação não são obstáculos. Mas saber se expressar com clareza e objetividade é imprescindível.
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Nota de 24/10/2014: Se você está especificamente interessado em realizar um curso de doutoramento, recomendo a leitura deste texto.



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